Perder amigos
Há pessoas que se perdem, umas das outras, com uma facilidade que faz pensar se seriam mesmo amigas. Se alguma vez foram, realmente, amigas. Todos nós já passámos por isso.
Algumas vezes, as pessoas perdem-se mutuamente. Afastam-se. Deixam de ter coisas em comum, deixam deliberadamente o tempo passar permitindo, assim, que a amizade morra. Como uma planta que se esquece num canto da casa, sem regar, sem cuidar. Murcha, seca, some-se. Um dia vai parar ao lixo sem sequer deixar mágoa.
Mas depois há as ocasiões em que um dos amigos observa, com tristeza, o outro partir. Percebe que se nada fizer, o outro há-de acabar por sair da sua vida, devagarinho, deixando uma dor, um vazio, uma tristeza. Às vezes, aquele que observa ainda tenta recuperá-lo, dar-lhe a mão. Tenta que não se escape, como areia, por entre os seus dedos. Mas nem sempre as pessoas estão no mesmo comprimento de onda. Nem sempre querem as mesmas coisas. Nem sempre desejam a mesma amizade.
Por vezes, quem se escapa pode estar deslumbrado com outras pessoas, pode sentir que já não fala a mesma língua que o amigo que deixa para trás, pode sentir que alguma coisa se quebrou para sempre. É assim, a vida.
O pior é quando os anos passam e um dos dois continua a pensar naquele amigo que perdeu, e insiste na pergunta: será que aquilo que vivemos juntos foi verdade? Ou será que não passou de uma mentira, de uma falácia, de um encontro circunstancial? O pior é quando quem voltou as costas, displicente, se arrepende, porque percebe que optou por gente que acabou por se revelar pouco amiga, tendo preterido quem realmente gostava de si. O pior é quando este tipo de amarguras ficam pela vida fora.
Porque uma amizade verdadeira é uma coisa tão rara que devia ser mais valorizada. E quantos de nós não deixámos já alguém escapar-se-nos por entre os dedos?
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