27 de dezembro de 2008

Feliz Natal - parte II

Pergunto-me se terá sido. Fecho os olhos e vejo a mesa farta, os rostos que amo e a conversa solta. Os risos das crianças, os sorrisos pacientes, quiçá mais do que nos outros dias, dos adultos.

Estão ali pessoas que não sei se ou quando voltarei a ver num Natal em volta da mesma mesa. O meu irmão vai partir para Angola sem data de regresso. A minha avó tem quase oitenta anos. Há um aperto no peito apesar das luzes, do brilho, dos risos.

Parto com a sensação do inevitável. Como se algo estivesse prestes a acontecer. O coração está pequenino. A voz apertada na garganta. As lágrimas brilham. E no entanto é Natal. Feliz. É um Feliz Natal.

Pergunto-me se é saudade ou premonição. Talvez seja só a idade. O Natal mudou, não foi?

Éramos muitos à mesa este Natal. Foi o meu presente. Olhar em volta e estarmos todos ali. A mãe, a avó. Os dois manos. Os quatro sobrinhos. Os primos. Os cunhados.

Dancei na noite de Natal. Todas as músicas, reais ou inventadas, de que eu e a pequenina nos lembrámos. Rodopiámos pela sala cheia sem chocar com nada nem ninguém. Pulámos até ficar sem ar. Os dois mais velhos desapareceram no quarto a montar um daqueles brinquedos estranhos e complicados que ele já recebeu. Ouvem-se os risos e um ou outro arrufo de vez em quando. Mas eles entendem-se e volta a ficar tudo bem.

O bebé dorme no colo do pai. Os adultos conversam de tudo e de nada. Em conversas cruzadas que provocam gargalhadas.


E depois há as prendas, os abraços, mais gargalhadas.

E de novo em volta da mesa. Até que vão partindo, em grupo como quase sempre. Ficamos nós. Muitos, ainda assim.

Amanhã, estarão de volta.

24 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Neste ano de perdas e tristezas, de sustos e angústias, de dor e mágoas. Neste ano de distâncias alargadas e encontros inesperados.

Neste ano de dias felizes e cheios de sol.
De reencontros. De velhos e novos amores.

Neste ano de buscas e descobertas.

Neste ano de que não vou ter saudades por todas as razões menos aquelas que me farão sempre desejar voltar atrás, quero que saibas que sou mais feliz porque fazes parte da minha vida.

Feliz Natal.

21 de dezembro de 2008

Quase, quase Natal...

Resistir. Uma, duas, várias semanas. Calar a pergunta insistente “vais”? O querer e o não querer saber. A dúvida “será que te perguntas o mesmo”? Será que te importa?

Um dia pouco feliz. Um principio triste de uma noite quase sempre no mesmo tom. Um jantar a que eu não queria ter ido e fui. Sem saber porquê.

De repente estás ali. De costas para mim. Não te vejo exactamente, mas sei que és tu. Pergunto-me se também já me terás visto. E se, tal como eu, desvias o olhar e os passos para não ser visto. Se tiver de ser, será.

Vai acontecer isso mais uma ou duas vezes até que fico sem ponto de fuga e tu estás ali, parado à minha frente. Não era para ter sido assim.

O teu olhar e o meu já se tinham cruzado, momentos antes. Não consegui desviar a tempo. Sabias que te tinha visto, não tinha como disfarçar e cumprimentei. De longe. Quase imperceptível para os que estavam ao meu lado. Foi neles que foquei toda a minha atenção logo de seguida, para te perder. Para te deixar ir. Quando hesitaste na minha direcção.

Se tiver de ser, será. E de repente estou sozinha numa sala enorme. Todos debandaram para aqui ou para ali. E no momento em que a percorro para me juntar aos outros, estás ali. Sozinho. Parado à minha frente. A olhar para mim. Não posso evitar-te, fingir que não te vi.

Beijo sem toque. O “olá” de circunstância destas coisas. “Vieste”? eu venho sempre, tu é que não. Ou o meu coração não teria disparado o ano passado quando inesperadamente te percebeu ali. Be still my heart...

“Está tudo bem”. “Estás mais magro”. “Pois, pois estou”. Não é fácil a vida que escolheste ter. Dá trabalho. “Pois, pois dá…” e agora? O que dizer a seguir? Para onde olhar quando não quero ler os teus olhos. Quando não quero que percebas os meus. Faço anos e tu não sabes. Não me dás os parabéns. Não me abraças e desejas felicidades.

Alguém pára ao meu lado. Um dos que tinha debandado por um momento, está de volta. Vamos juntos ter com quem nos espera. “Adeus, gostei de te ver. Fica bem”. Sem olhar para trás. Sem te procurar. Sem querer saber se me segues com os olhos, se me achas bonita ou se te intriga o homem ao meu lado.

Não voltei a ver-te. Não voltei a procurar-te. Está feito.
Se tiver de ser, será.

28 de novembro de 2008

Ontem à noite, no Coliseu do Porto


Aplaudir. De pé. A força da voz. A humildade. A generosidade. Bravo. Bravo. Bravo.
Aplaudir. De pé. Camané, ao vivo, e em nome próprio. Bravo!

22 de novembro de 2008

Uma canção de amor :)

Gosto muito dele, desde sempre, mas foi o meu irmão o primeiro fã lá em casa. Nos tempos do Chico Fininho, tão presente anos mais tarde na minha vida.

Foi com "Cavaleiro Andante" que o descobri. E fiquei.

Esta tarde, depois de anos sem a ouvir, escutei novamente.
Há muitas músicas, em muitas linguas, e desde sempre, a falar de amor. Mas este "Cavaleiro andante que mora no MEU livro de aventuras" é o colo que espero ser para quem amo. É o colo que são para mim os que me amam. Mesmo nos dias em que não sei ou não quero pedi-lo.

E esta tarde, ao escutá-la uma vez mais, foi assim que a senti. Como uma declaração de amor.
Aos meus amigos. Aos meus amores. Aos meus irmãos. Aos meus sobrinhos.

Cavaleiro Andante
Rui Veloso Composição: Carlos Tê / Rui Veloso

Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras

Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de Maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe

Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou

Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua

Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz

Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau

6 de novembro de 2008

Dias de Outono

Foto: Los Angeles Times

Gosto destes dias, frios, de Outono.
Em que o frio nos faz andar mais rápido e as tardes cinzentas de Domingo são passadas no sofá a comer castanhas e a beber chá.

É tempo de sopas quentinhas, romãs e diospiros.

De adormecer no sofá a ouvir a chuva lá fora.

Cheira a Natal… qualquer dia, devagarinho, aí está ele.
As lojas já fecham mais tarde, as luzes nas ruas são acesas dia 15 e já dá vontade de decorar a casa.

Velas, luzes, cores por todo o lado… muitas árvores de Natal, muitos presépios.

Para que se repita, como num ano não muito distante, o “uau” de deslumbramento e o brilho de encantamento no olhar do sobrinho


31 de outubro de 2008

Chocolate

Há noites assim… quase mágicas. Como se de repente o tempo parasse e ficasse apenas aquela voz. Doce.

A “inveja boa” por alguém conseguir fazer “aquilo” com a voz. A cumplicidade e alegria em palco.
O sorriso e a doçura da João, a alegria do Mário ao piano, o prazer dos restantes por estar ali.

E nós, muitos, uma sala cheia, esgotada, em silêncio, a partilharem aquele momento.
A rir com a cumplicidade e alegria de quem se conhece bem.

Apesar da crise que, como dizia a João em dado momento, não nos impediu de estar ali.

Num dia de 12 horas de trabalho, num dia de chuva e frio, pelas 22h houve duas horas de paz… de silêncios cheios de música e cumplicidade.


Esta manhã os olhos pesados pelas poucas horas de sono e o corpo cansado pela falta de repouso dizem-me, ainda assim, que valeu a pena.

15 de outubro de 2008

Fiquei, depois de ter partido

A minha amiga é uma das 3 pessoas que me lêem nesta morada e andou por cá alguns dias sem reparar que havia um post novo :)

A razão é simples: o titulo.
Muito, muito, muito parecido com o do Post anterior sobre Barcelona.

Por isso, e porque fazia parte dos planos iniciais, aqui está uma foto de Cuba:


(e antes que perguntes, sim, tinha MESMO de ser "dele" :) )


Desde há muito, desde o dia em que pela primeira vez descobri Che Guevara numa biografia comprada na Feira do Livro de Lisboa (e que não lembro o que me fez comprar), Cuba passou a ter para mim uma importância que, até aí, não existia.

Mais do que Fidel, para mim a revolução Cubana é Che Guevara. Para além de o achar um homem muito bonito, o que me seduz, como a tantos outros, em Guevara, é a capacidade de acreditar, de lutar até à morte por uma causa, uma revolução e um país que, à partida, não eram os seus.


Che escolheu Cuba e os Cubanos adoptaram-no como seu.

Em Cuba, Che está por todo o lado. Nas bancas para os turistas, nas ruas, nas paredes, nas casas. Nos corações.
Foi uma surpresa logo nos primeiros momentos e, provavelmente, a razão maior deste recente amor por Cuba.

A maior. Mas não a única. Felizmente, há muitas outras.
A beleza de Havana e Guamá. A Baía dos porcos.

Hemingway e Eça de Queiroz (cônsul em Cuba durante 2 anos).

O calor. A simpatia do povo. O contraste ente o novo e o velho.
O citroen xsara de 2000 e o Ford de 1950.

O cheiro dos charutos (de que eu não gostava mas que lá percebi que pode cheirar a chocolate).
A paisagem verde e azul, imensa, que não cabe numa fotografia. Por muito que se tente.

A vontade de saber mais, de descobrir mais.

Sim, gostei de Cuba. E quero, muito, voltar no próximo ano. Ainda que parta para outros destinos.
Fiquei, depois de ter partido.

31 de agosto de 2008

Não ficarei, depois de ter partido :)

Não, não me interpretes mal: adorei Barcelona!!

Adorei lá ter ido e tenho a certeza, na medida possível deste tipo de certezas, que voltarei. Porque quero mostrar a cidade a outras pessoas.

Partilhar o que vi e conheci da cidade.

E sei, percebo agora, porque adiei tantas vezes.

Há momentos certos nas nossas vidas para algumas coisas.

Noutros momentos, com outras pessoas, teria sido diferente a minha descoberta.

Não me senti só, em Barcelona.
Com os meus amigos ao alcance de uma sms (sempre retribuída) e de um telefonema inesperado que me deixou tão feliz: “estás a adorar, não estás??? Ainda não :)

Mas estou a gostar MUITO e radiante por ter vindo!”

Mas para ficar, para querer ficar ali, é preciso algo mais que Barcelona, por estes dias pelo menos, não teve.


Há um encanto que vai muito além das paisagens, dos edifícios, da luz e calor de Agosto em Barcelona.

A simpatia do povo. O calor dos Barcelonenses. Que não vi, não senti.

E isso é, para mim, o pior de Barcelona: a antipatia dos habitantes e as multidões na Plaça de Catalunya.

Os Barcelonenses não são simpáticos, calorosos, acolhedores.
Mas os espanhóis também não são, pois não? Não é essa uma das muitas, e boas, diferenças entre “nós” e “eles”?? ;)

Há excepções, claro.
Em especial nos mais velhos a quem fui pedindo indicações aqui e ali (ok, a rua é esta… mas é para que lado, mesmo? :)) e que sorriam perante o meu “catalanês” inseguro.


Estava a pensar nisso esta manhã… nunca tentei falar em Português (e no entanto o catalão até tem palavras iguais. Falei sempre e só em “espanhol” e em Inglês.

É divertido, faz parte do prazer de viajar, mas não faz lá muito sentido já aqui ao lado, pois não?

Não são simpáticos, os Barcelonenses. E é pena.
Ao contrário de muitos dos meus amigos, não senti “gostava de viver aqui”. Senti “conseguia viver aqui se fosse preciso, mas…”

Porque Gaudi, e o Verão e a beleza do Palau não ficariam para sempre iguais aos meus olhos e o resto, o calor que me mantém no Porto em Lisboa, está nas pessoas.

O pior de Barcelona?
A antipatia dos Barcelonenses e as multidões na Plaça de Catalunya.

O melhor de Barcelona?
O Palau de la Musica Catalana, o Market Hotel, o sol e o calor de Agosto.

O mais inusitado de Barcelona?
O homem completamente nu na Sagrada Família. Sim, NU.

Ele estava completamente nu a passear tranquilamente pela rua. De garrafa de coca-cola na mão, com um cabelo e barba enormes (fazia lembrar os aborígenes) provocava, no mínimo, sorrisos e olhares de espanto entre aqueles que com ele nos cruzámos e sorria completamente “zen” :)

Bem-vinda a Barcelona :)


20 de agosto de 2008

1 ano depois

Um ano depois a Jamaica. que era uma viagem sonhada, não foi um sonho de viagem.

Não começou exactamente ali, mas aumentou a distância.
Um ano depois, passam-se meses sem uma palavra.

Não foi a Jamaica. Foi o abandono. Horas a fio.
As horas passadas em silêncios desconfortáveis. As lágrimas e a solidão inesperadas.

Um ano depois, foi o "quero, não quero... ai não me deixes ir que eu não quero".
Mas foste. Porque querias, desde sempre claro.

E o troféu que era preciso trazer na ultima noite.

Um ano depois, não foi só a Jamaica.
Foi o silêncio que se seguiu. As tuas ausências no meu silêncio forçado.

Um ano depois, sinto de vez em quando a tua ausência. Mas não lamento.
E penso em ti com carinho e ternura.

E torço para que encontres, finalmente, o teu caminho menina perdida... mas vou ficar por aqui.

19 de agosto de 2008

gostar de ti...

"Eles nem sempre gostaram um do outro, mas sempre se adoraram..."

11 de agosto de 2008

É sempre bom regressar ao lugar onde escolhemos viver...



Ah, se ao menos Lisboa fosse já aqui ao lado... :)

6 de agosto de 2008

5 de agosto de 2008

É desta!!! :)

O meu hotel http://www.markethotel.com.es/ de 28 a 30 de Agosto.

Fantástico.Sobre "ele" escreveram na Rotas e Destinos:

"Barcelona tem alojamento de grande nível (os hotéis de luxo) e tem estadia em conta (os típicos hostales são mais assépticos que antigamente e ainda praticam preços de outrora). Mas, algures no meio, Barcelona tem o Market – que parece ser caro e sai muito barato.

A maioria das pessoas vem por causa do restaurante, que é popular, porque também é barato (e parece ser caro).

Os turistas, ou seja, nós, encantamo-nos com o alojamento, porque é hotel de charme, com perfume de época e falsa decoração retro, e porque oferece fruta e água à discrição (são as vantagens de se partilhar o bairro com o Mercado Sant Antoni). Há três anos, quando abriu, o Market tinha apenas quatro quartos. Hoje, verdade seja dita, não parece ter muito mais (mas já vai em 46, e as suites também são sweet). O hotel é vizinho de prédio residencial (chega a utilizar elevador comum, dos dois em utilização), e cada um dos pisos é antigo apartamento (só falta ao hotel conquistar o terceiro piso de apartamentos contíguo). Sant Antoni não é Raval, nem L’Esquerra de l’Eixample, nem Montjüic, mas é um pouco de todos – daí ser intermédio entre a baixa e a alta. Os preços também: quarto duplo a €93, single a €80 e junior suite a €112. Era uma coisa destas que andávamos à procura."

Viajem comprada, reserva confirmada.
Finalmente. Em Barcelona :)

17 de julho de 2008

Pés na água o dia inteiro… sol e calor qb.
A sombra das palmeiras e a brisa morna carregada de sons e cheiros felizes…

Gente bonita, simpática, descontraída.
Fruta fresca e bebidas leves… as palavras inúteis porque os mais pequenos desejos são antecipados…

Ah… são estas as férias que eu quero ter.
Em Setembro, se Deus quiser. E os outros deixarem :)

1 de junho de 2008

Ainda as flores...


As Estrelicias, que eu adoro porque me fazem lembrar pássaros a esticar o pescoço no exacto momento de começar a voar, não são a "flor da Madeira". Vieram de longe. Da África do Sul.




As Proteias, que a minha mãe adora e eu aprendi a gostar, vieram da Austrália.




A verdadeira, a que tem origem na Madeira, são os massarocos.
Parece quase uma flor silvestre e, ao primeiro olhar, nem tem uma beleza por aí além.
Aprendi a reconhecê-los e gostar de os ver ao longo dos caminhos da serra.

São eles. A flor da Madeira.

31 de maio de 2008

A Madeira é um jardim? Sim :)


Flores. Muitas. De todas as formas. De todos os feitios.
De todas as cores. Por todo o lado.

A Madeira é um jardim? Sim. Principalmente em Abril, na primavera.

Há uma explosão de cor e perfume em todas as ruas, em todas as serras, em todas as janelas.

Vejo-as na minha rua agora e nunca tinha reparado nelas.
Há flores iguais às da Madeira.

Vejo-as agora. Com surpresa e sorriso. E pergunto-lhes "já estavas aqui e eu nunca te vi?"

Estão na rua em que moro, na àrea ajardinada do edificio em que trabalho.

Iguais. Trazem-me de volta o sol da Madeira, o perfume, o sorriso.

Viajar é isto, não é?
Fechar os olhos por um momento e ter de volta o prazer da descoberta e do abandono ao inesperado... a cor das faias na montanha... os castanheiros... os maçarocos...

A Madeira é um jardim? Sim.
E à minha porta há, todos os dias, um bocadinho de Madeira em cada olhar. Só para mim.

2 de maio de 2008

1 ano depois

Estava longe.
De férias e longe daqui.

Não esqueci. Acendi uma vela.
Fiz várias preces nesta minha maneira meio torta de falar com os Deuses.

Rezar, dizem que é.
Por isso "rezei". Por ti. Pelos que te amam e que amaste.
Para que encontrem a paz.

Para que a dor esteja mais leve. Para "doer menos".
Um ano depois.

27 de abril de 2008

Acabou

Ontem, no duche, desapareceu. A leve pelicula que protege a ferida a cicatrizar.
Era a única marca visivel que restava.

O resto (o inchaço, o negro, a dor) já tinha, devagarinho, desaparecido.

Esta marca, a única, mal se via. Só eu a sabia lá.
Quem viu, não a percebeu de imediato "parece um sinal. Ou uma sarda mais escura".

E ontem caiu. Suavemente. Sem um toque. No duche.

A ferida cicatrizou. A dor ficou para trás.
Acabou.

6 de abril de 2008

O que é que esse narizinho me conta?

Foi o que perguntou assim que entrou na sala em que eu o esperava meio despida. Frágil, pequenina, assustada como uma criança. Chorava. Sem conseguir falar. Respirar. Pensar. Medo. Muito, muito medo.

E ele, gentil e paciente como poucos, insistia “oh, então? Um narizinho tão bonito e não me diz nada”?

Eu queria dizer. Queria retribuir o sorriso e dizer. Mas chorava. Convulsivamente. Descontroladamente. Como se todo o medo e todas as lágrimas guardadas durante semanas já não coubessem mais no meu peito.

Aquele era o dia que eu esperava/ temia desde o primeiro momento em que o encontrei num auto-exame.O caroço no meu peito. O nódulo. O fibroadenoma. E eu estava ali. Tantos anos depois de o ter encontrado.

Mamãe disse “ninguém devia fazer uma coisa destas sozinha. És a minha heroína”.Não? Sou?

Comecei a chorar no momento em que me chamaram.

Em que me disseram “entre para ali e dispa-se da cintura para cima que o dr. já vem”.
Eu não queria chorar. Não queria ter medo e estar frágil e pequenina. Mas aconteceu assim.

A ternura comove-me e foram todos tão gentis desde o primeiro momento.

A técnica da eco.

Quando me explicou o que era conveniente fazer e porquê.

A minha médica. Quando pediu a biopsia.

As meninas da recepção quando marcaram logo para o dia a seguir e quando perceberam a minha ansiedade e o meu desespero naquele dia.
Em que eu nem me lembrava da minha morada.

A assistente que me fazia festinhas enquanto me preparava.

E dizia que ia correr tudo bem.

E o Dr. Pimentel. “O que é que esse narizinho me conta?”
Mostrou o que achava importante fazer. Explicou porque é que não ia fazer o que lhe tinham pedido e queria fazer mais do que isso.

Mesmo que o sistema de pagamento não cobrisse. “O pagamento logo se vê. Se não pagar hoje, paga noutro dia. Mas cobre. O sistema cobre. Vão lá ver”. E foram. E cobre.

E outra vez a brincadeira com o meu nariz arrebitado “já viu? Eu não tenho o nariz arrebitado mas é como se tivesse”.

A ternura. Os sorrisos arrancados no meio das lágrimas.
“Confia em mim?” Sim. Confio. Faça tudo o que quiser. Faça o que for preciso.

A agulha no meu peito.
A anestesia a arder. Pouco.

As “marteladas” para tirar “minhocas”.
O carregar/ apertar/ comprimir muito doloroso que seguiu a cada uma delas (para não sangrar e não ficar muito negro).

Uma
“é fibroadenoma, ouviu?? É uma boa noticia!!! Está a ouvir?”
Sim. É Fibroadenoma. É uma boa notícia. Estou a ouvir.
“mas vamos tirar mais para mandar analisar e não ficarem dúvidas”.
Sim.

Duas
Três
Quatro
Cinco

Gelo.
Ajudar a vestir. Risos. Ternura.

Já está. Acabou.

“Vai correr tudo bem.
O Dr. já lhe deu uma boa notícia, não foi?”

Ninguém à espera. O alivio e a angústia de me saber só.
A casa vazia em que pude chorar horas a fio. A noite inteira. A manhã.

As lágrimas que insistem em cair. Eu choro um pouco, quase todos os dias…


O peito negro ainda, apesar dos dias que passaram. O ligeiro desconforto de vez em quando. A quase dor.

O resultado, amanhã.
Sim, vai correr tudo bem.

2 de abril de 2008

Amanhã, talvez...

Eu choro um pouco, quase todos os dias...
... porque estou mais assustada do que os outros jamais imaginaram...

26 de janeiro de 2008

Às vezes...

... os outros escrevem o que eu diria de mim se me tivesse lembrado.

Como se fossem "eu" por um momento. Como a "Rosa" no http://sorrisos-aos-molhos.blogspot.com/

"Sou agressiva e tolerante. Racional e emocional. Autoritária e submissa. Consigo querer e não querer a mesma coisa, ao mesmo tempo, com a mesma intensidade. Gosto de tudo, mas há dias em que não me apetece absolutamente nada. A retórica exaspera-me. Os subterfúgios impacientam-me. As meias verdades são-me intoleráveis. Sou naturalmente cândida. E casualmente cínica. Insuportável, no fundo…"

Eu também. E ainda assim, ou por causa disso, tão querida... :)

1 de janeiro de 2008

Feliz Ano Novo!!! :)

Num dos meus blogs preferidos, "os dias úteis", o Pedro escreveu no dia do meu aniversário:

Amor é.
Papá, estou apaixonado.

Vinda de um fiiho com 4 anos, a frase tem uma magia que desarma e comove, tal como surpreende.
- Prometes que não gozas comigo e dizes aquela palavra? - suplicou-me ele, a caminho de casa.(é que nas cenas românticas dos filmes dele, eu digo "o Amorrrrr", e ele não gosta quando digo o mesmo em relação a ele. Desta vez percebi que a coisa era séria e mantive o tom do discurso respeitoso).
E ele confirmou, lindo, lindo, lindo:
- É que eu não consigo deixar de pensar nela, o dia todo. Gosto dela por amor, por amiga e por amizade.
E eu, mantendo a solenidade do momento:
- Ò filho mas por amizade e por amiga são a mesma coisa.
- Não, papá, assim é mais.

Pois é, meu querido filho.
Assim é tudo.

http://osdiasuteis.blogs.sapo.pt/

Que seja assim o novo ano. Por amizade e por amigos. Com esta certeza.
E que sejamos muito, muito, muito felizes em 2008!!!

Bom ano!