Dia 18 de Fevereiro, vai acontecer. Eu sei, já sabem, já todos sabem. Já o escrevi aqui. Já vos disse ao ouvido, de viva voz. Ou por mail.
Na verdade já está a acontecer desde a tarde de dia 21. Dia 18 só passa a ser “a sério”.
Sim, já vos podia ter contado naquele dia. No dia da reunião. Mas havia três pessoas que mereciam ser as primeiras a saber. É (principalmente) por elas que o faço. Mas por mim também.
Houve surpresa. Tomei uma decisão impulsiva, fiz 600 kms com menos de 12 horas de intervalo para lhes contar. Mas estava lá. Naquele momento.
De viva voz. Ao vivo e a cores. Para lhes contar.
A mana, (a quem apareci de repente no meio da rua, com o ar mais natural do mundo, como se fosse suposto estar ali e não a 300kms “precisas de ajuda”?) ficou a olhar para mim “estás cá? Mas tu disseste que vinhas para a semana…” . E vinha. E venho. E daqui a umas horas tenho de voltar ao Porto porque vou trabalhar. Mas tenho uma coisa para vos contar e quis fazê-lo pessoalmente.
Preocupação na voz e no olhar… “o que é que aconteceu? Mas é bom ou mau? e a minha insistência em só contar em casa, quando estivéssemos todos juntos. “A avó está cá, veio almoçar”. Eu sei. Foi também por isso que achei que hoje era um bom dia.
A dúvida no olhar… “é bom ou mau?”. É bom, acho que é bom. E a resposta, pronta: “estás grávida”. Não, não estou. Achas que isso era uma coisa boa? “Acho. Claro que era uma coisa boa!”. Pois. Se calhar até era. Mas não, não estou grávida.
A surpresa do cunhado: “estás cã? Não sabia que vinhas”. Pois, ninguém sabia,
E, finalmente, mamãe e vovó. Entrar em casa. “Olá”, diz a mana. Ninguém nos vê entrar. Está tudo no quarto. “olá”, respondem. Digo “boa tarde” duas vezes até perceberem que há mais alguém e reagirem “não, eu devo estar a ouvir mal”. Não estás, não. Encontrei-a na rua mas só diz porque é que veio quando estivermos juntas. O que é que se passa? Não, não estou grávida, a mana já perguntou isso. “Vais casar?” Não, não vou… e mamãe, de repente, “vais voltar para Lisboa!” Vou, vou voltar para Lisboa. Foi a explosão. Já não ouviram mais nada, já não queriam saber mais nada. Explodiu o riso, os gritos, as lágrimas. Os abraços.
Gostava que pudessem ter visto porque eu não consigo contar. Eu não sabia que era assim. Eu esperava alegria, felicidade. Mas não sabia que era assim. Ouvi coisas como “eu pedi tanto” ou “foi um dos meus desejos para este ano!!”, “mãe, hoje vamos ter de beber champanhe!!” (já imaginaram? Carapaus assados com salada e champanhe?? Um pitéu, só vos digo!!”).
As lágrimas nos olhos da mana, o desabafo “foi um dos meus desejos…” comoveu-me e apanhou-me de surpresa. Não sabia, não tinha percebido que, também para ti, era assim tão importante. Desculpa.
A avó abraçava-me muito, de repente preocupada com a mão… “e tu lá tão sozinha… agora voltas para ao pé de nós”. A avó que ficou em lágrimas e sem palavras abraçada a mim.
Mamãe foi a mais contida. A sorrir e de lágrimas nos olhos. Feliz.
O sobrinho pequenino ria-se ao colo da mãe e fazia-me festinhas quase como se percebesse mas na verdade feliz por ver a tia que vê que tão pouco.
O mais velho talvez seja, afinal, o que tem mais bom senso no meio desta gente toda. Imperturbável no computador como se mesmo ao lado dele não houvesse aquele “caos” de lágrimas, risos e gritos de felicidade.
Quando lhe perguntaram se estava feliz, respondeu “por te ver, claro! Não sabia que vinhas!”. Ninguém sabia mas não é por ela ter vindo, é por voltar para Lisboa. Voltar?? E vais viver onde, aqui? Sim… pelo menos por uns tempos, suponho… felicidade, risos e a pergunta “e ficas cá já hoje?” Não, daqui a umas horas tenho de voltar. Vou trabalhar. Mas volto para a semana e dia 18 fico.
Depois… depois são horas de conversa porque há tanta coisa para fazer, para tratar. E toda a gente dá ideias, faz projectos, se lembra de mais alguma coisa.
Arranjar casa e vender/ alugar esta é uma prioridade. Preciso do meu “canto em Lisboa” com alguma urgência. Perto da família, de preferência.
Eu sei que não vai ser sempre assim. Que o mundo não é um mar de rosas e que os 300 kms tinham muitas coisas boas que se vão perder.
Eu sei que não vai ser sempre assim. Mas aqueles primeiros minutos eu nunca vou esquecer. Nunca.
Se dúvidas houvessem (e ainda há uma grande divisão de sentimentos, são 12 anos não são 12 dias), tinham acabado ali. Eu sei que tomei a decisão certa. Por mim e por elas.
Queria que tivessem visto… queria ter a arte de vos poder contar como foi. Mas não consigo. Há alturas em que as palavras são muito pequeninas.
Dia 18. De Fevereiro. Estou de volta a casa. 12 anos depois.