20 de agosto de 2012

:)

Hoje chamaram-me “meu anjinho da guarda”. E eu sorri.

Porque não sou. Somos “anjos da guarda” quando queremos o bem dos que amamos? Quando procuramos, na medida das nossas limitações, dar afeto e remediar injustiças?

Hoje disseram-me que continuo elegantérrima. E eu sorri.
E fiquei surpresa pela surpresa… não era suposto estar? Não é normal que esteja? Não foi sempre assim?

Hoje, um amigo não quis sê-lo porque quer mais do que lhe posso dar… e é pena porque gosto muito dele mas não tenho mais para lhe oferecer. Deixa-me triste, tão triste… e a pensar que o contrário é mais fácil. Pelo menos para mim que estou, ou estive, do outro lado e por isso sei o que sente. Queria poder dar-lhe o que me pede, mas não posso. E é triste sentir, e saber, que é isso que nos afasta. Porque gosto, realmente, muito dele.


Hoje recebi uma foto linda, no telemóvel, do meu amor pequenino, e sorri.
Porque a recebi, de certeza, pela tristeza. Porque sabiam, com todo o amor que o gesto implica, que me ia fazer sorrir.

Hoje a minha mãe descobriu que estou triste. Mais do que podia ter imaginado. E ficou surpresa, embora tenha negado. Fica sempre. A médica disse-lhe. Que eu estou muito mais triste que ela. Não sei se será assim tão surpreendente. Mas para ela foi, porque se esquece quase sempre que estou doente. Tão ou mais que ela.

A culpa é minha, eu sei. É mais difícil, dá mais trabalho, sorrir para além da tristeza. Estar feliz, apesar disso. Mas faço por isso.

São momentos. Menos agora, já foi pior. Talvez um dia passem. Ou não. Mamãe nem sequer tenta. Por isso está sempre a queixar-se… porque, diz, é pior não falar. Talvez seja.

Às vezes pergunto-me se esta parte de mim nunca deixará de ser triste, profundamente triste. E penso se não terá sido sempre assim.

O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. E eu não tenho essa capacidade de falar de mim. Muito menos de me queixar do mundo. É-me mais fácil calar. Mas muito mais doloroso.

Difícil, muito difícil, falar. Foram poucas as exceções ao longo dos anos, as pessoas com quem senti esse tipo de conforto que me leva a falar de mim… incluindo da parte mais negra e insuportável de mim. Foram desaparecendo, devagarinho. Porque a vida nos vai afastando ou porque deixaram de ter paciência. Ou talvez tenha sido eu, sem dar por isso, a cobrar demais o que não têm obrigação de dar. Mesmo que eu vá descobrindo que sim, que também têm obrigação. Alguma, pelo menos. Não é só receber. Pena que pareça isso… uma obrigação.

E, eu sei, estou mais exigente agora. Peço mais. Costumava achar que não tinha o direito de pedir na medida em que dou. Descobri que mereço mais. O retorno é importante.

A minha dra. faz-me falta. Regressa em breve. Com ela é mais fácil falar. Talvez porque a sei ali, disponível para me ouvir. Pago-lhe para isso, eu sei. Mas vai muito além disso. Há empatia, preocupação, interesse pelo que é dito. Há perguntas…

Há “raspanetes” e discordâncias… deixa-me a pensar… digo-lhe que coisas que não sabia que tinha para dizer… descubro coisas terríveis, de mim e dos outros. E fantásticas também:)

Mesmo que muito fique calado. Nem sempre é fácil verbalizar.

É preciso um furacão para limpar o mar? Talvez não… mas que o deixa mais azul e transparente que antes eu sei, porque já vi.

A trovoada, a chuva intensa, limpa tudo… as lágrimas nas conversas com a dra, os apertos no peito, as gargalhadas pelas descobertas felizes… são a minha chuva. Preciso de chuva. Talvez chova em breve…

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