27 de outubro de 2011

Sorrisos no muro

(Post escrito a 18 de Outubro)

Aviso desde já: este é um post um bocado piegas… pronto, é assim!


A minha tia-avó está a morrer. É uma morte dolorosa. Daquelas que me deixam sempre a pensar que não são justas e que ninguém merece sofrer assim. A minha tia tem Cancro no pâncreas.

Não sei exatamente que idade tem. É mais nova que a minha avó mas não deve ser muito mais e a minha avó tem 80 anos… uns 73, talvez... não precisava de sofrer tanto, pois não?

A minha tia perdeu o único filho há cerca de um ano, morreu de repente, uma morte estúpida, horrível, uma cirrose que rebentou. Tinha 40 e poucos anos, um filho de 16 ou 17 anos… enfim, uma tragédia. A minha tia perdeu a vontade de viver depois disso. Deve ser horrível sobreviver à morte de um filho. É contranatura. E agora está a sofrer tanto, mais ainda. Não precisava de ser assim.

Estava a pensar nisso esta manhã e lembrei-me da tal história que o Padre Filipe contou no sermão de Ano Novo num ano não muito longínquo… os desejos do Padre Filipe (que também morreu de Cancro…) para aquele ano (e para os que se seguem, já agora) é que todos tenhamos muitos “Sorrisos em cima do muro”:

Numa leprosaria em África no meio de muitos doentes as irmãs repararam que ao contrário da maioria que andava sempre zangada e mal-humorada havia um homem sorridente que agradecia e pedia por favor sempre que falavam com ele. Uma das irmãs percebeu que todos os dias à mesma hora aquele homem se dirigia a um determinado ponto do muro e olhava. De repente aparecia uma rapariga no cimo do muro. Olhavam um para o outro, sorriam e ela voltava a desaparecer. Um dia a irmã perguntou-lhe quem era aquela rapariga e ele explicou:

Era a mulher dele. Que quando ele ficou doente e teve de ir para ali, se recusou a ficar na aldeia e fez questão de o acompanhar e vivia do outro lado do muro para ficar perto dele. Então tinham combinado que todos os dias, à mesma hora, ela aparecia ali. E todos os dias, à mesma hora, ele ali estava para a ver. Enquanto houvesse aquele sorriso em cima do muro, ele tinha uma razão para viver.

A história é mais ou menos assim. O Padre Filipe contou-a maravilhosamente, muito melhor do que eu alguma vez o farei. Mas penso muitas vezes nisto (mesmo que volta e meia pareça esquecer-me). Lembrei-me hoje, uma vez mais. A minha tia não tem, ou sente não ter, muito mais sorrisos em cima do muro (talvez nem mesmo o neto) e por isso não aguentou mais e deixou de querer viver.

Está no IPO e quer ir para casa. Não quer ficar lá mais tempo. Nem tomar banho, nem comer, nem tentar mais nada. Tem muitas dores e não quer ter mais dores. Quem lhe pode pedir que continue a lutar? Quem, no lugar dela, o faria? Que sorrisos terá a minha tia-avó no cimo do muro?

Eu tenho… tenho tantos! Ou nem tantos mas tão lindos, tão brilhantes, tão abertos!!! E mesmo quando pareço esquecer-me, sei que estão sempre lá.

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