1 de outubro de 2011

O Padre Filipe Morreu...

O padre Filipe era um bom homem, um bom padre e morreu esta semana. E eu tenho pena que tenha morrido.

Costumo dizer que se Deus for como o Deus do padre Filipe, então, nesse Deus, eu acredito. Nos "outros", nos outros não. O Deus do padre Filipe era um Deus de paz, de compreendão, de erros, de falhas. Não era um Deus perfeito. Não era um padre perfeito. Pode ser contraditório este Deus imperfeito? Talvez? Mas era assim que eu lia, que eu ouvia através daquele padre franzino e moreno, sempre de sorriso nos lábios (nunca o vi sem estar a sorrir, nem mesmo nas raras vezes em que nos cruzámos já nos tempos da doença).

Não tive, e lamento-o, muito contacto com o Padre Filipe. Mas nestes últimos 15 anos foi quase sempre o pároco de Carnide.Foi ele quem baptizou o André e penso que foi esse o meu primeiro contacto com ele na qualidade de madrinha. Recordo de então, a subtileza e carinho com que numa cerimónia de batzinhado triplo a ausência de pai do André não foi sequer notada ou referida nas reuniões preparatórias.

Nunca fui muito de missas, igrejas... essas coisas. Sinto-me espiritual mas não necessariamente religiosa. Comove-me um padre como um rabi e o lugar no mundo em que mais me senti em paz até hoje num templo budista em Seul.

Reconheço, ainda assim, uma particular ternura pelos franciscanos. Desde o fundador a Sto António. Também ele, o padre Filipe, era franciscano, e talvez por isso, não sei, os seus sermões eram sempre conversas.

Houve um tempo, já eu estava no Porto, em que a minha mãe ganhou o hábito de ir à missa ao Domingo. E eu, de vez em quando, mais para lhe fazer companhia, ia com ela... gosto de rituais e de alguma forma há alguma paz nos rituais liturgicos. Quando era o Padre Filipe a missa a era um verdadeiro prazer. Ri e chorei muitas vezes com os seus sermões. Ou até mesmo ambos numa só missa.

O sermão que mais me marcou na vida foi há muitos anos, numa missa de ano novo, e falava daquelas coisas que todos desejamos uns aos outros nestas alturas, nos balanços de vida que fazemos... nas épocas de maior ou menor desânimo.

É provável que ao longo dos anos, em momentos melhores ou piores de cada um, já vos falado no "sorriso no cimo do muro"... e hoje, no dia em que soube da sua morte, da morte de um homem bom, espero que lá onde quer que esteja o Padre Filipe saiba que foi muitas vezes um sorriso de paz, conforto e esperança para muito de nós.

Que descanse em Paz.

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