Que de repente parecem mudar a nossa vida, devagarinho, tranquilamente. Não necessariamente mudar mas ter um impacto inesperado na nossa vida, com todas as voltas e reviravoltas que o mundo dá.
Fez esta semana um mês que cai nas escadas no emprego. Dei uma daquelas quedas valentes, magoei-me a sério. Por pouco não parti o pé. Por pouco não foi um entorse de nível 3 (eu não percebo lá muito disso mas tanto quanto percebi é o mais grave e o meu ficou algures pelo meio entre o 2 e o 3). Por pouco não fui operada. Hospital, canadianas, tala, pé no ar, gelo... mais médico, baixa... fisioterapia.
Que mudou tudo. Que começou fez precisamente ontem um mês (poucos dias depois da queda) e deve terminar esta semana com muita pena minha.
No inicio parecia uma seca. Não pelo tratamento mas, ir para lá, todos os dias, ao fim da tarde, duas horas? Ainda bem que é perto! Chegar a casa às oito da noite... todos os dias! Mas depois, de repente, aquelas duas horas, que há medida que o tempo foi passando se converteram em quatro porque os exercicios vão aumentando, são um prazer. Não só uma terapia para o pé mas para a alma, para o espirito. Um antidepressivo natural.
Os meus fins de tarde na fisioterapia são muito divertidos. E muito eficazes. O pé está quase bom. Somos um grupo pequeno, muito simpático, damo-nos todos bem. Uns mais faladores e simpáticos do que outros mas não há ninguém antipático ou insuportável. Tem a ver com feitios e maneiras de ser. A fisioterapeuta ajuda porque é muito simpática, interage com todos, tem sempre o controle da situação não há momentos mortos e percebe imenso do assunto. Já consigo pular (correr é que ainda não :( sofro imenso) e a Silvia dizia-me esta semana: quem viu o seu pé nos primeiros dias e quem o vê agora... não tem comparação possível... o mérito é dela, claro, e foi o que lhe disse. Respondeu-me que não. Que é nosso. :) E do meu organismo que também colabora.
E depois há duas ou três pessoas que num mês achamos que mesmo quando a fisioterapia terminar vão continuar por perto, como o Inácio. Damo-nos muito bem. Fartamo-nos de rir. E de fazer rir. Reclamamos quando um chega mais tarde que o outro. E é engraçado. A Silvia, diz que fazemos uma boa dupla :) quando trabalhamos em conjunto, porque temos o mesmo tipo de lesão no mesmo pé e há exercicios comuns que fazemos em conjunto mas, ele é piegas como são quase sempre os homens, LOL, e ele é muito aldrabão e eu faço tudo direitinho o que provoca grandes gargalhadas porque ele tenta enganar-nos e entre mim e a Silvia não tem hipótese (por ele só andava de bicicleta, odeia a passadeira e mais meia-dúzia de exercícios).
Mas também temos conversas sérias, especialmente quando estamos na bicicleta ao mesmo tempo.Sobre o mundo em geral, sobre politica nacional e internacional, sobre futebol, sobre religião e a troika.
Sobre o Pluto. Aconteceu, porque me achou triste nesses dias em que eu não ria e pouco falava.
Um dia perguntou: porque é que andas tão triste e de lágrimas nos olhos? E quando eu contei, teve a ternura de não me dizer "é só um cão" mas de ouvir, compreender e, afinal de contas, até me fazer rir.
Por isso vos digo que nestes dias "aparentemente banais" um acontecimento chato, que podia ter sido até dramático, numa época de algum silêncio em que a escrita tem substituido muitas vezes a voz, ali é uma espécie de oásis sem passado, sem histórias, sem criticas, sem reclamações. Só nós, as nossas lesões, as nossas pequenas/ grandes conquistas diárias celebradas por todos. E talvez, num ou noutro caso, exista um futuro. Um amigo é coisa rara para se guardar dentro do coração. E eu vou ter saudades deles.
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