27 de junho de 2010

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Hoje sonhei contigo. Não foi como da outra vez, a semana passada, em que acordei a chorar, mas sonhar contigo deixa-me sempre triste e a pensar em ti com um aperto no peito. Não me lembro do sonho. Sei que a Sandra estava contigo e que havia comboios e malas e viagens mas não me lembro do sonho.

Sei o que o motiva. Sei porque razão sonho contigo.
Desde Março que não tenho noticias tuas. Chegaste e partiste sem me dirigir uma palavra que fosse. Nem a mim nem a ninguém, na verdade. Com excepção de mamãe que foi tão insistente antes e teve “direito”a um telefonema (seco e breve) quando chegaste. Embora não tenha tido o mesmo “direito” na tua partida.

Soube por vovó que foste 2 dias depois do previsto e que irias sem uma palavra porque estavas “alegadamente” muito magoado com a nossa ausência. O que não deixa de ser engraçado. Não que tenhas falado com vovó, claro. Devias estar demasiado… “ocupado” e foi a Sandra quem falou com ela. O que terá sido que vovó te fez…??? Ausente não esteve porque nem sequer tinha sido convidada, não é? Ou será que foi e não percebeu?

Não te reconheço direito e razão e sei que se as circunstancias fossem outras, se ainda precisasses de alguma de nós, estarias aqui.

Porque em Setembro não houve ausências de ninguém e tu partiste sem uma palavra, sem dizer adeus. Não de mim, que te impus estupidamente a presença naquele fim de tarde no aeroporto, mas de mamãe e da mana. Não regressaste a Lisboa como prometido e partiste sem dizer adeus. Não ligaste ou mandaste mensagem nos aniversários de nenhum dos sobrinhos. Não dás noticias se ninguém o fizer primeiro e várias vezes (mamãe quase teve de te “ameaçar” para ter uma resposta depois de ter vários mails ignorados. Pergunto-me se o farás em breve, se te lembrarás de uma data e darás noticias.

O amor, por ilimitado que seja tem, ainda assim, um limite. Quando magoas assim os que amo tanto e que te amam de igual modo, ficas mais feio, mais pequenino…

Tenho saudades tuas. Vou ter sempre. Mas paciência.
Nada do que eu disser ou fizer pode mudar o que já aconteceu.. Nem te interessa o que penso ou deixo de pensar a esse respeito. E tu não me lês aqui, este é só um desabafo. Quando abrimos o armário e deixamos os “esqueletos” sair, tudo dói menos, tudo é menos assustador. Empurrá-los bem fundo lá para dentro e fechar a porta só aumenta a dor que tentamos ignorar.

Disse-to já (mas tu não sabes) “desistir, desistir mesmo, é coisa que custa (…) quando se gosta respira-se fundo. Conta-se até 320. Faz-se um esforço de memória para relembrar só que é bom. E, sobretudo, sabe-se que o dia seguinte será sempre melhor, mesmo que à noite haja palavras tortas e costas voltada (…) já me fartei algumas vezes. Mas nunca as suficientes para bater com a porta de vez. Fica só ali ligeiramente encostada até que um tenha a presença de espírito suficiente para a abrir outra vez...".

É esse o estado do meu coração. Cansei-me de tentar manter a porta aberta. Não a fechei, não a fecharei nunca, não seria capaz. Mas não quero mais só para mim o esforço de a manter aberta. Por isso fica ali, “ligeiramente encostada” até que um de nós volte a abri-la.

Acordada, sou a menina forte e “dura” que sempre fui perante o resto mundo (com a excepção que só eu e mais alguém conhecemos e que não é brilhante). E por isso pareço imperturbável, sem dor e sem culpa, assumindo cada uma das minhas escolhas e decisões. Mas quando a noite e o sono chegam… a ternura e a dor da tua ausência falam mais alto que a razão. E por isso sonho contigo e acordo triste.



Post Scriptum…

… e por falar em “mais alguém”, quer-me cá parecer que há quem tenha lido "a porta encostada" e pensado que era para si :\ que era uma espécie de “recado”. E foi-se embora sem dizer uma palavra.


Mas não faz mal. Resolvi há muito não quebrar o silêncio dele no dia em que voltasse (suponho que o esperei estes seis meses… a cada novo acontecimento dava por mim a pensar “é agora que ele vai embora outra vez”).
Suponho que foi. Juntou tudo o que se tinha passado na vida dele, na minha e a nós a isto e foi. E eu não disse nada. Vi que estava a acontecer e, surpreendentemente, não disse nada. Não perguntei, não reclamei, não fiz uma cena.

Já o sabia há muito tempo, acho. Não voltaria depois de Barcelona. Sem saber que o sabia. Foi surpreendente a tranquilidade da descoberta. Acredita, estou melhor assim.

Não era para ele o post. O “recado”. Nem de longe nem de perto. Não tinha nada a ver. Era para ti mesmo. Ou para mim, a teu respeito, já que não me lês realmente aqui e é sempre, afinal de contas, para mim que escrevo.
(E vai na volta nem foi nada disso e nem teve nada a ver com o meu post :) )

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