Pergunto-me se terá sido. Fecho os olhos e vejo a mesa farta, os rostos que amo e a conversa solta. Os risos das crianças, os sorrisos pacientes, quiçá mais do que nos outros dias, dos adultos.
Estão ali pessoas que não sei se ou quando voltarei a ver num Natal em volta da mesma mesa. O meu irmão vai partir para Angola sem data de regresso. A minha avó tem quase oitenta anos. Há um aperto no peito apesar das luzes, do brilho, dos risos.
Parto com a sensação do inevitável. Como se algo estivesse prestes a acontecer. O coração está pequenino. A voz apertada na garganta. As lágrimas brilham. E no entanto é Natal. Feliz. É um Feliz Natal.
Pergunto-me se é saudade ou premonição. Talvez seja só a idade. O Natal mudou, não foi?
Éramos muitos à mesa este Natal. Foi o meu presente. Olhar em volta e estarmos todos ali. A mãe, a avó. Os dois manos. Os quatro sobrinhos. Os primos. Os cunhados.
Dancei na noite de Natal. Todas as músicas, reais ou inventadas, de que eu e a pequenina nos lembrámos. Rodopiámos pela sala cheia sem chocar com nada nem ninguém. Pulámos até ficar sem ar. Os dois mais velhos desapareceram no quarto a montar um daqueles brinquedos estranhos e complicados que ele já recebeu. Ouvem-se os risos e um ou outro arrufo de vez em quando. Mas eles entendem-se e volta a ficar tudo bem.
O bebé dorme no colo do pai. Os adultos conversam de tudo e de nada. Em conversas cruzadas que provocam gargalhadas.
E depois há as prendas, os abraços, mais gargalhadas.
E de novo em volta da mesa. Até que vão partindo, em grupo como quase sempre. Ficamos nós. Muitos, ainda assim.
Amanhã, estarão de volta.
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