Mesmo com a mensagem telegráfica, quase fria, do mano. "Feliz Natal e talvez para a semana consiga passar por aí". Sem um beijo. Sem o calor da voz dele. Para mim, ainda para mais, apenas para mim. Depois de um ano de silêncio. Quando mamãe seria a destinatária óbvia e não eu.
Mesmo sem a tua despedida. Sem o teu "até já". Sem o teu "Feliz Natal". Que me surpreendeu por tão inesperado.
Mesmo com a tristeza, a dor, de I. Tão pesada. Tão densa. Que me deixa tão impotente e preocupada.
Mesmo com o medo do pequenino que se assustou quando o "Pai Natal", que começou por o deixar radiante quando apareceu, o fez choramingar quando falou com ele. Descobri mais tarde que são as barbas que o assustam. E o facto de ter sido o único sobrinho que não reconheceu a tia por detrás do fato, no primeiro riso :)
Porque o Natal também é isso.
A ternura do mais velho: "não fiques triste, para o ano tentamos outra vez e pode ser que ele já não tenha medo".
Não meu querido, não fiquei triste. Sim, para o ano tentamos outra vez. O mais velho que estava radiante por, pela primeira vez, participar no ritual de preparação e perceber como é que esta tia pequenota se transformava no velho e gordo "Pai Natal" :)
Um Natal feliz pela tranquilidade.
Pela facilidade com que as horas passaram sem conflitos, à mesa. Com os risos, pulos e cantorias do pequenino. Com as conversas inteligentes do mais velho, a passar-se com a bisavó, que tem 80 anos, e que se recusa a aceitar que ele não acredita em Deus. Acha que ele não percebe nada disse e ele muito sério a tentar explicar-lhe "avó... eu estive quatro anos na catequese, fiz a primeira comunhão e simplesmente não acredito em Deus, ok??" - como que a dizer-lhe que não é por ter 14 anos que não percebe o que quer ou aquilo em que, neste momento, acredita.
Um Natal feliz porque, numa das raras vezes em que aconteceu, mamãe gostou das prendas que recebeu. Gostou de todas as prendas. E não estava com o ar de sofrimento e dor neste Natal, que costuma ter noutros. Que já tinha nos dias anteriores ao Natal. Apesar do filho que a magoou. Muito.
Trabalhei muito neste Natal. Mesmo muito. O mais que pude. O mais que consegui antecipar. Para evitar pequenos conflitos. Para evitar sobrecarregar mamãe. Para lembrar os mais distraídos que era preciso ajudar. Não é justo que sejam um ou dois a trabalhar para o Natal de sete...
Um Natal feliz porque consegui "roubar" duas horas para mim. Para recarregar baterias e poder dar outra vez. Regressar a casa e dormitar uma hora em silêncio. Embrulhar duas prendas e reiniciar o caminho de regresso. Valeram ouro essas duas horas. E parecem tão pouco, não é?
Foi Feliz, este Natal. Porque um ano depois, a vida voltou a fazer sentido.
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