14 de junho de 2009

Ausências...



A minha mãe cobra o silêncio. As mensagens que chegam e de que desconhece o autor. Poucas. Raras, nos dias que correm. Os telefonemas, quase inexistentes, mas ainda assim, para ela, demasiados. As coisas que não conto.

Acusa-me de deslealdade pelo que não partilho da minha vida. Não é a primeira vez que o faz. Não será a última. Por não ser reciproco, o partilhar. "Ameaça" retaliar. "Eu vou passar a fazer o mesmo". Como se fosse condição para um, a existência do outro. Que não peço. Que não escolhi.

Pergunto-me se não ficaria chocada ao descobrir a banalidade, a monotonia, da minha vida tão longe dela. E surpresa como o facto de aquele que é, efectivamente, o único segredo, estar tão próximo.

Tem a certeza que eu tenho uma "vida secreta". Que a exclui. Que a magoa.
Quando fico dias em silêncio, não lhe ocorre que posso precisar de colo. Precisar que me procurem, que sintam a minha falta. Que tenham saudades minhas (não nos cansamos todos, volta e meia, da comunicação num só sentido?). Para a minha mãe, nesses momentos, devo "estar lá na tua vida secreta" que decidiu que eu tenho e hei-de voltar a dar noticias quando me apetecer.

Não lhe ocorre que posso estar cansada, cheia de trabalho, a correr de um lado para o outro. Que posso, simplesmente, não ter nada para dizer.

A minha mãe, que tudo cobra, magoa-se com o que não lhe conto e choca-se com o que lhe digo.
O "almoço em Coimbra" (que nunca existiu de facto) deu-lhe todas as respostas que julga ter. As opções que tomo e de que lhe falo abertamente, chocam-na, Porque só "as mulheres casadas" o fazem. As mulheres solteiras quase com 40 anos, bem resolvidas e com opções definidas, não. Há outras escolhas. Por isso, devo ter casado e não lhe contei. "Menina para isso és tu", diz mamãe.

Surpreendida, hesito entre a dor e o riso. A minha mãe tem 58 anos e surpreende-me com este "choque". Não o esperava. Não assim. Atirado de chofre no meio de uma discussão (mais uma) semanas depois do momento em que conversámos sobre isso e nada do género foi dito. Não por causa de um telefonema (que foi um erro a todos os níveis e não devia ter acontecido) ao entardecer.

Opto pelo riso. Ou vai doer tanto que é dificil voltar atrás. E mamãe é mamãe. Sempre e apesar de tudo.
Não te preocupes: não o faria sem, pelo menos, to comunicar. E na, imensa, improbabilidade de acontecer um dia, espero ter-te lá. Com a mana. E até mesmo o mano distante, quem sabe."Tudo o que vivi, estou a partilhar contigo".
Talvez não seja, afinal, "menina para isso".


A minha amiga sente-me diferente. Mais distante. "Evasiva", foi a palavra que usou.
Queixa-se do silêncio, mas não lê realmente o que escrevo, o que lhe conto.
Tem todas as respostas, sem entrelinhas, nos mails imensos, embora raros, que ainda lhe escrevo de vez em quando.


E no meio de tudo isto, mágoa e solidão. A alegada independencia e auto-suficiencia, tem um preço elevado.
A escolha do que quero, como e com quem, partilhar também.

Sem comentários: