27 de outubro de 2007

Abraça-me em silêncio

Hoje descobri que tive medo. Muito medo.
Mais medo do que esperava. Do que sabia. Do que me sentia capaz de dizer em voz alta.

Irónico, não é? "Em voz alta"... logo eu que não posso falar.
Logo eu cujos dias de silêncio se prolongam há dois meses.

Dizem-me muitas vezes nos ultimos dias "não guardes tudo para ti" ou "ainda por cima está cá sózinha, não tem mãe, familia, namorado... tem de lidar com isto tudo sózinha".

Estou cansada de perguntas. Estou cansada de respostas.
De já não saber o que dizer ao "estás melhor?" ou "ainda não estás melhor, pois não?".

Ou "já foste ao médico?" "Correu bem?" "O que é que ele disse?""Vais meter baixa, não vais?" Sim. Sim. Não quero falar mais sobre isso. Desculpa, mas hoje não me apetece falar.
E não, não vou meter baixa.

Esse lado de carinho e ternura faz-me sentir frágil. E pequenina.
Tive medo. Estou assustada. E não sei o que fazer com isso...

Choro em silêncio por tudo o que não digo. Porque não sei como dizê-lo.
Porque estou cansada e assustada demais para o dizer em voz alta.

Agora não. Agora sei que, apesar de tudo, apesar de ainda não parecer, está tudo bem.
Talvez por isso, agora choro. E sei e sinto e percebo que tenho medo e que estou assustada.

Só não percebi ainda se choro de angústia ou alivio.
Se me obrigo ou me permito chorar.

Se é a tempestade antes da bonança. A válvula que alivia a pressão das ultimas semanas.
Como aquela tampinha das panelas de pressão que aliviam o vapor para não deixar que expluda :)

Por isso choro na casa vazia em que ninguém vê.
Ou no autocarro olhando pela janela com os óculos escuros e em silêncio.

Não me façam mais perguntas. Estou cansada de perguntas...

Mas depois de semanas sem saber porquê, sem saber o que fazer, as respostas chegaram e as soluções também.

Mesmo que não saiba como lidar com o que preciso de mudar em mim.
Mesmo que não me saiba capaz de o fazer. Mesmo sabendo que o farei.

Mas hoje... hoje não me faças perguntas. Não me peças respostas.
Não queiras que te explique. Não me digas que vai ficar tudo bem.

Hoje, só por hoje, abraça-me em silêncio.
Sem perguntas e sem respostas.

Deixa-me aninhar nesse abraço apertado e longo e chorar no teu ombro.
Porque vai ficar tudo bem.

Hoje, só por hoje, abraça-me em silêncio.

Sem comentários: