Hoje descobri que tive medo. Muito medo.
Mais medo do que esperava. Do que sabia. Do que me sentia capaz de dizer em voz alta.
Irónico, não é? "Em voz alta"... logo eu que não posso falar.
Logo eu cujos dias de silêncio se prolongam há dois meses.
Dizem-me muitas vezes nos ultimos dias "não guardes tudo para ti" ou "ainda por cima está cá sózinha, não tem mãe, familia, namorado... tem de lidar com isto tudo sózinha".
Estou cansada de perguntas. Estou cansada de respostas.
De já não saber o que dizer ao "estás melhor?" ou "ainda não estás melhor, pois não?".
Ou "já foste ao médico?" "Correu bem?" "O que é que ele disse?""Vais meter baixa, não vais?" Sim. Sim. Não quero falar mais sobre isso. Desculpa, mas hoje não me apetece falar.
E não, não vou meter baixa.
Esse lado de carinho e ternura faz-me sentir frágil. E pequenina.
Tive medo. Estou assustada. E não sei o que fazer com isso...
Choro em silêncio por tudo o que não digo. Porque não sei como dizê-lo.
Porque estou cansada e assustada demais para o dizer em voz alta.
Agora não. Agora sei que, apesar de tudo, apesar de ainda não parecer, está tudo bem.
Talvez por isso, agora choro. E sei e sinto e percebo que tenho medo e que estou assustada.
Só não percebi ainda se choro de angústia ou alivio.
Se me obrigo ou me permito chorar.
Se é a tempestade antes da bonança. A válvula que alivia a pressão das ultimas semanas.
Como aquela tampinha das panelas de pressão que aliviam o vapor para não deixar que expluda :)
Por isso choro na casa vazia em que ninguém vê.
Ou no autocarro olhando pela janela com os óculos escuros e em silêncio.
Não me façam mais perguntas. Estou cansada de perguntas...
Mas depois de semanas sem saber porquê, sem saber o que fazer, as respostas chegaram e as soluções também.
Mesmo que não saiba como lidar com o que preciso de mudar em mim.
Mesmo que não me saiba capaz de o fazer. Mesmo sabendo que o farei.
Mas hoje... hoje não me faças perguntas. Não me peças respostas.
Não queiras que te explique. Não me digas que vai ficar tudo bem.
Hoje, só por hoje, abraça-me em silêncio.
Sem perguntas e sem respostas.
Deixa-me aninhar nesse abraço apertado e longo e chorar no teu ombro.
Porque vai ficar tudo bem.
Hoje, só por hoje, abraça-me em silêncio.
27 de outubro de 2007
7 de outubro de 2007
Renato
Um dia, há mais tempo do que gosto de lembrar, o Renato morreu.
O Renato era um gato especial... com mau feitio para os outros e um mar de amor para mim.
Adormecia na minha cama.
Dentro dos lençóis. Com a cabeça no meu ombro, a pata a abraçar-me o colo e o corpo esticado aninhado no meu quando tinha frio.
Foi o companheiro de muitas horas, de muitos dias. De lágrimas e de risos. Da nova vida no Porto.
Estivémos juntos 13 anos. Viémos juntos de Lisboa.
Miava quando me sentia chegar ao fundo da rua. Ficava na janela á minha espera e recebia-me em cada chegar a casa.
Um dia, o Renato ficou doente. Muito. Por muito tempo. Com dor.
E um dia, depois de uma semana em que parecia ter ficado há minha espera, o Renato não conseguiu levantar-se.
Olhou-me com aquele imenso olhar azul e eu soube que tinha de o deixar partir.
Soube que era por mim que ele ficava mas que já não podia mais.
E na decisão mais dolorosa da minha vida, deixei-o partir.
Soube naquele momento que não tinha o direito de ser egoísta e de o querer mais tempo para mim.
E levei-o onde o podiam ajudar a seguir sem dor.
Disseram-me, no momento em que foi preciso dizer adeus "Ele sabe. Ele entende que o ama."
E eu vi, naquele imenso e doloroso olhar azul, a ternura e a gratidão de se saber amado.
De o deixar partir.
Hoje, num blog que visito diariamente, deparei-me com um link para este texto:
BLUE BUTTERFLY
Agostinho da Silva disse-me um dia que a solidariedade era uma forma moderna de expressão de egoísmo. Ajudamos o outro pela satisfação que isso nos trás e não necessariamente pelo impacto causado na vida do outro.
Quanto do amor é feito de egoísmo?
Quando do amor é feito do que nos causa conforto?
Balzac, o nosso malamute, morreu ontem depois de meses sem ninguem ter coragem de o mandar abater.
E mesmo na última noite e na última manhã, quando ele gemia e se contorcia com dôr, não havia coragem para fazer o telefonema.
Ajudá-lo a morrer seria poupar-lhe sofrimento. Mantê-lo vivo, era dar-lhe a dignidade de o deixar partir quando a hora dele realmente chegasse.
Mas seria isso mesmo? Ou não teremos inconscientemente considerado que seria maior o nosso sofrimento ao ter que lidar com a morte dele? Ou não quisemos nós inconscientemente poupar-nos à responsabilidade de terminar uma vida e à dôr que vem daí. Ou não quisemos nós pensar que aquilo poderia passar e ele qual lázaro levantar-se dos mortos. Fomos cobardes ou amávamo-lo demasiado?
Poupar o sofrimento é um gesto de amor? Manter o que amamos o maior tempo possivel junto de nós é um gesto de amor dirigido ao outro ou a nós próprios?
in "http://blogdalexandra.blogspot.com"
E enquanto lia lembrava o Renato.
A dor da sua partida. A decisão dificil, tomada sózinha, sem ninguém com quem partilhar.
Chorei muitos dias. Muitas horas. Chorei hoje, agora.
Ainda sinto uma pontada de dor quando lembro esse momento.
"Manter o que amamos o maior tempo possivel junto de nós é um gesto de amor dirigido ao outro ou a nós próprios?"
Nesse dia de Outubro, há mais anos do que gosto de lembrar, amá-lo foi deixá-lo partir.
E perceber que o meu egoísmo só o fazia sofrer.
Sinto a falta dele. Muitos dias. Muitas vezes. Na casa em que nunca viveu, sinto-o presente.
Conto as histórias. E sorrio de ternura ao lembrar as tropelias de um gato que não me lembro de ver brincar :)
E a minha doce Ginja, que é tão diferente mas tão igualmente amada, perdoa concerteza as vezes em que sem saber porquê... lhe chamo Renata.
Um dia, há mais tempo do que gosto de lembrar, o Renato morreu.
O Renato era um gato especial... com mau feitio para os outros e um mar de amor para mim.
O Renato era um gato especial... com mau feitio para os outros e um mar de amor para mim.
Adormecia na minha cama.
Dentro dos lençóis. Com a cabeça no meu ombro, a pata a abraçar-me o colo e o corpo esticado aninhado no meu quando tinha frio.
Foi o companheiro de muitas horas, de muitos dias. De lágrimas e de risos. Da nova vida no Porto.
Estivémos juntos 13 anos. Viémos juntos de Lisboa.
Miava quando me sentia chegar ao fundo da rua. Ficava na janela á minha espera e recebia-me em cada chegar a casa.
Um dia, o Renato ficou doente. Muito. Por muito tempo. Com dor.
E um dia, depois de uma semana em que parecia ter ficado há minha espera, o Renato não conseguiu levantar-se.
Olhou-me com aquele imenso olhar azul e eu soube que tinha de o deixar partir.
Soube que era por mim que ele ficava mas que já não podia mais.
E na decisão mais dolorosa da minha vida, deixei-o partir.
Soube naquele momento que não tinha o direito de ser egoísta e de o querer mais tempo para mim.
E levei-o onde o podiam ajudar a seguir sem dor.
Disseram-me, no momento em que foi preciso dizer adeus "Ele sabe. Ele entende que o ama."
E eu vi, naquele imenso e doloroso olhar azul, a ternura e a gratidão de se saber amado.
De o deixar partir.
Hoje, num blog que visito diariamente, deparei-me com um link para este texto:
BLUE BUTTERFLY
Agostinho da Silva disse-me um dia que a solidariedade era uma forma moderna de expressão de egoísmo. Ajudamos o outro pela satisfação que isso nos trás e não necessariamente pelo impacto causado na vida do outro.
Quanto do amor é feito de egoísmo?
Quando do amor é feito do que nos causa conforto?
Balzac, o nosso malamute, morreu ontem depois de meses sem ninguem ter coragem de o mandar abater.
E mesmo na última noite e na última manhã, quando ele gemia e se contorcia com dôr, não havia coragem para fazer o telefonema.
Ajudá-lo a morrer seria poupar-lhe sofrimento. Mantê-lo vivo, era dar-lhe a dignidade de o deixar partir quando a hora dele realmente chegasse.
Mas seria isso mesmo? Ou não teremos inconscientemente considerado que seria maior o nosso sofrimento ao ter que lidar com a morte dele? Ou não quisemos nós inconscientemente poupar-nos à responsabilidade de terminar uma vida e à dôr que vem daí. Ou não quisemos nós pensar que aquilo poderia passar e ele qual lázaro levantar-se dos mortos. Fomos cobardes ou amávamo-lo demasiado?
Poupar o sofrimento é um gesto de amor? Manter o que amamos o maior tempo possivel junto de nós é um gesto de amor dirigido ao outro ou a nós próprios?
in "http://blogdalexandra.blogspot.com"
E enquanto lia lembrava o Renato.
A dor da sua partida. A decisão dificil, tomada sózinha, sem ninguém com quem partilhar.
Chorei muitos dias. Muitas horas. Chorei hoje, agora.
Ainda sinto uma pontada de dor quando lembro esse momento.
"Manter o que amamos o maior tempo possivel junto de nós é um gesto de amor dirigido ao outro ou a nós próprios?"
Nesse dia de Outubro, há mais anos do que gosto de lembrar, amá-lo foi deixá-lo partir.
E perceber que o meu egoísmo só o fazia sofrer.
Sinto a falta dele. Muitos dias. Muitas vezes. Na casa em que nunca viveu, sinto-o presente.
Conto as histórias. E sorrio de ternura ao lembrar as tropelias de um gato que não me lembro de ver brincar :)
E a minha doce Ginja, que é tão diferente mas tão igualmente amada, perdoa concerteza as vezes em que sem saber porquê... lhe chamo Renata.
Um dia, há mais tempo do que gosto de lembrar, o Renato morreu.
O Renato era um gato especial... com mau feitio para os outros e um mar de amor para mim.
6 de outubro de 2007
10 anos depois
Hoje completam-se 10 anos que comecei a trabalhar no Porto.
Restam duas pessoas na minha equipa… há dias em que fica um certo vazio.
Os 10 anos e a morte da minha amiga, com quem vim de Lisboa para começar tudo, acentuam essa nostalgia.
Olho para trás e pergunto-me o que mudou realmente na minha vida nestes 10 anos.
Se eu for embora amanhã, o que ficará realmente de mim por aqui?
E pergunto-me, no silêncio de mim mesma, se faria tudo outra vez... sim.
Restam duas pessoas na minha equipa… há dias em que fica um certo vazio.
Os 10 anos e a morte da minha amiga, com quem vim de Lisboa para começar tudo, acentuam essa nostalgia.
Olho para trás e pergunto-me o que mudou realmente na minha vida nestes 10 anos.
Se eu for embora amanhã, o que ficará realmente de mim por aqui?
E pergunto-me, no silêncio de mim mesma, se faria tudo outra vez... sim.
3 de outubro de 2007
2 de outubro de 2007
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