13 de janeiro de 2016

Estranhos

Há uma ponta de tristeza, de desilusão… como foi que chegámos aqui? 

Ver-me e ouvir-me na rua e não parar, não dizer adeus ou olá ou o que quer que seja? E sair disparado a atravessar a rua… ou no metro como no outro dia. Olhar sem ver. Rostos e vozes que não se reconhecem.

Amei tanto este homem, tanto!! Como é possível que agora o olhe e não me reconheça no seu olhar? Perdi tanto tempo a amar este homem. Dei tanto de mim. Do que sou, do que sinto. Daquilo em que acredito. Teria enfrentado tudo e todos por este amor. Sem pedir em troca mais do que o amor correspondido. Nunca quis mais do que me poderia ser dado. Mas queria que o tivesse sido.

Permaneci, anos a fio, em nome de um amor unilateral. A “paixão”, o “fogo”, o “desejo” morreu cedo do lado de lá. Nunca foi amor. Lutamos pelo que amamos, não lutamos?

Não é dor o que sinto agora. Não é zanga, não é mágoa. É tristeza. Uma tristeza profunda.
Por ter amado tanto alguém que agora não me reconhece. Em quem não me reconheço.

A proximidade torna inevitável que nos cruzemos de vez em quando? Talvez. Ou talvez não. Tem acontecido algumas vezes. Não o vejo. Não me vê. Não chamo. Não procuro. Adeus.

Terminou à muito. De verdade.
O sentimento, a tensão física, a vontade de estar perto. As “borboletas na barriga”.
Um dia olhei para o lado e estava lá outra pessoa. Era com “ele” que o olhar sorria. Com “ele” que o corpo queria estar.

Mas julgava-nos amigos. Julgava-o o meu melhor amigo.
Com quem podia falar de quase tudo. Rir, chorar, desabar de vez em quando. Irritar, discutir. Amuar. Concordar. Também faz parte, dizem.

Não contei sobre “ele”. Não partilhei. Há coisas que são só nossas. Que não partilhamos. Que vivemos a dois.

 Adivinhou-o, eventualmente. Talvez o tenha sentido em mim.
Comentou, de vez em quando. A “atirar para o ar” e tentar acertar. Mas não contei, não confirmei.
Era meu. Era “nosso”. Não era dele.

As “lentes mudaram” de cor… de repente já não era cor-de-rosa.

E na rua, lado a lado no sinal à espera para atravessar, os olhares que se cruzam, a voz que se ouve, já não é reconhecível e somos, de repente, dois estranhos.